terça-feira, 14 de maio de 2013

Clichês do repórter de um tempo que já passou


Por Luciano Victor Barros Maluly - Observatório da Imprensa - Jornalista no Brasil - Ed. 745 - 07/05/2013

As informações estão concentradas nas mãos de pessoas que, pelo poder adquirido em virtude das atribuições profissionais e pessoais, são responsáveis por manter/planejar a ordem, ou seja, responder as dúvidas, mostrar o caminho das pedras, autorizar e disponibilizar os documentos comprobatórios, entre outras tarefas. São lacunas que contêm as possíveis respostas às dúvidas dos repórteres. Resumindo, as notícias dependem da boa vontade de outrem. Por isso, é possível reforçar que, durante a fase de coleta das informações necessárias à produção da notícia, a insistência torna-se uma condicional ao trabalho de jornalista no Brasil.

Diante de tantas dificuldades, a paciência e a determinação em conseguir certos dados são condições fundamentais para o sucesso na profissão. Assim, conquista-se e se mantém a credibilidade e, por conseguinte, a própria sobrevivência do veículo onde trabalha.

O telefone e a internet são ferramentas utilizadas frequentemente nas redações, que podem até lotar a caixa postal da fonte. Porém, é por causa da pressão advinda de um encontro (cara a cara) que o jornalista capta os detalhes ainda implícitos na matéria ou mesmo ausentes das informações oficiais já divulgadas e selecionadas.

Comparecer in loco e várias vezes (até obter as devidas informações) é um procedimento indispensável à reportagem. Durante o “chá de cadeira” recebido na visita, o repórter reflete sobre a ação dele e a posição do entrevistado. Da mesma forma, é a oportunidade de vistoriar o ambiente, conversar com as pessoas e sentir o clima do local. É nesse momento que o jornalista percebe os males da burocracia ou mesmo a instalação da democracia ou da tirania em locais públicos e privados. É o instante de conhecer os protagonistas e testemunhas que estavam fora do planejamento inicial da cobertura, assim como é a chance de analisar as relações.

Burocracia do Estado
Naquela situação, o jornalista incorpora o universo do cidadão que precisa de um documento, ou de um simples cadastro ou mesmo de um número de inscrição para prosseguimento de um processo seja na área educacional, trabalhista, judicial, entre outras. Veste a camisa do sujeito que trafega por diversos postos/ repartições até encontrar a pessoa certa, considerada a que solucionará o problema. Espera ser atendido, marca horário para um novo encontro, retorna inúmeras vezes, espera mais tempo, cobra adiantamento do pedido, persiste até conseguir o que lhe é de direito.

Tornou-se o chato ou o herói de uma história que, sem luta, teria um final infeliz. Como jornalista, uma única e importante diferença é que a persistência integra a profissão, diferenciando o interesse público do privado. Não existe mérito e ninguém elogiará o trabalho daquele repórter, porque é determinado como dever do profissional de “imprensa”.

A proximidade é uma das características do jornalismo contemporâneo, não só pela possibilidade de diálogo e da busca da verdade, mas também pela necessidade manter vivo o ofício de repórter, exercício a cada dia mais distante da função original consolidada em sociedade.

Aos editores, por favor, modifiquem o atual panorama que mantém os jornalistas como simples noticiaristas, presos em salas de Redação, com ar condicionado, telefone e computadores, plagiando notícias das agências de comunicação públicas e privadas. Afinal, perde-se o valor do trabalho de apuração e da construção da notícia, diminuindo a importância e a necessidade do jornalista. Destranquem os repórteres e permitam o acesso aos ambientes abertos, cheios de gente e de vida, para que possam presenciar (e não apenas imaginar) a transformação do mundo (pelo tempo que passa). Possibilitem aos jornalistas desempenharem as suas habilidades natas ou aprendidas na prática e na teoria (conquistadas seja nos jornais e nas faculdades). Procurem conduzi-los ao exercício da reportagem, com dinâmica do sentimento de dever cumprido, sem a atual omissão de quem divulga informações sem conhecimento de causa.

A tecnologia chegou para diminuir as distâncias, não para atrapalhar. O uso das ferramentas – telefones, gravadores, computadores, câmeras e outros – são para somar e facilitar e não para destruir uma profissão determinante para o equilíbrio da humanidade. Sem jornalistas, as pessoas se distanciam, desconhecem as culturas e os fatos tornam-se duvidosos, baseados no achismo, nas lendas e no provável.

Os repórteres estão nas escolas, nos hospitais, nas ruas, nas fazendas, nos parques e onde há vida. Eles estão presente no cotidiano escolar – da atribuição à sala de aula – e compartilham da angústia do educador no Brasil. Da mesma forma, unem-se aos profissionais da saúde no desgastante plantão de um hospital. Irritam-se com as filas construídas pela burocracia do Estado. Convivem e criticam o descaso com as ruas e calçadas sujas ou do cidadão que joga dejetos nos ambientes públicos. Também estão inconformados com a inflação camuflada pelos meios de comunicação ou mesmo pelas dívidas que iludem e perseguem os cidadãos de bem.

Mudanças visíveis
As angústias de quem quer um mundo melhor permitem ao jornalista perceber como existe um paralelo entre o imperfeito e a felicidade. Visualiza o também sonhado país diante de pequenas situações como a conquista de um novo emprego, dos almoços de domingo, do bem estar da família e dos amigos, a passagem pela faculdade, a saúde perfeita após uma doença, um sorriso de uma criança ou de um idoso, a natureza preservada...

Chegou a hora de o jornalista mudar a sua estratégia. Cansou das pautas sobre competições esportivas e políticas, das atitudes violentas e arbitrárias. Precisa de planejamento e respeito. A valorização do próximo passa a ser o exemplo deste jornalismo, que começa a abrir caminhos para a comunicação.
Agora, o ser humano é o protagonista capaz de preservar o ambiente. O repórter busca os detalhes, procura o novo e não a resposta perfeita. Pergunta sobre o universo, as emoções e as aventuras. Já não tem medo de enfrentar o desconhecido. O tempo é curto e a reportagem ganha corpo.
A principal informação é de que o Brasil mudou. Já não é mais o país do povo violento e vazio como está na televisão. Acordamos cedo, trabalhos e estudamos. Somos pessoas alegres e capazes de reverter uma situação difícil. Lutamos pelo bem-estar e somos honestos. Logo descobrimos que uma boa notícia também traz felicidade.

Prezadas e Prezados, reflitam sobre o seu trabalho até aqui na disciplina a partir das ponderações feitas pelo autor.

18 comentários:

  1. A internet, que muitas vezes é apontada como a causa dos jornalistas estarem trancados em suas redações pode ser considerada também como a causadora deste acontecimento. Na era online, o que se espera, tanto o telespectador quando o detentor da notícia, é a informação rápida, sem muitos floreios e com dados precisos. Para isso, a ida à rua, a apuração in loco e a visão pessoal da cena acaba ficando comprometida e sufocada pelo "fator tempo". Acredito que, se necessário, deve mesmo ser feita essa quebra das fechaduras das portas das redações e não se acomodar, mas acredito também que isso não seja apenas papel do veículo e do editor, deve ser também do repórter que, com seu poder de persuasão e com ideias consistentes, pode mostrar o quando certas pautas demandam mais cuidado em sua produção.

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  2. Na disciplina assim como na visão do autor de jornalista ativo,participamos da construção da reportagem em todas as suas fases de produção desde a criação e apresentação da pauta até o produto editado e finalmente pronto . Vivemos aquilo que o autor propõe para um jornalista formado e que hoje se vê limitado ou até mesmo acomodado com a facilidade de acesso a internet e regras editoriais.

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  3. Jornalista bom é jornalista na rua, já dizia Alberto Sena(amigo nosso),A internet é uma ferramenta que funciona somente como pesquisa básica.Precisamos estar no local vivenciar o cotidiano para que assim a nossa pauta fique rica em detalhes e consequentemente seja publicada.

    Felipe Souza

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  4. A internet como ferramenta na apuração jornalística é muito mal vista, por ser associada apenas aos jornalistas que se enclausuram nas redações e perdem o que acontece na rua, mas eu a vejo também como uma ferramenta de velocidade, é na internet que os assuntos se movem com mais rapidez e assim temos informações mais imediatas. Porém acredito que ela deve ser usada como complemento do vivenciamento externo, o repórter tem que ter a informação, mas precisa estar presente no local onde tudo acontece para fazer o exercício de imersão e observação.

    Meyre Ellen

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  5. Acredito que para ser um bom jornalista, a internet deve ser apenas o complemento para um boa apuração. Pois é apenas "indo para as ruas" que o jornalista consegue observar, analisar e descrever exatamente o que ele precisa saber, porém caso haja mais informações a descobrir, acho que nada impede dele consultar na internet ou em outros meios, mas ficando claro que deve-se sempre confirmar o dado divulgado.
    E na disciplina e nos trabalhos dados fazemos isso. Temos que ir atrás de pautas "inéditas", buscar informações e respostas para as nossas perguntas, fontes confiáveis e realizar entrevistas, para assim, montar o nosso projeto.

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  6. Jornalista tem que ir as ruas para apurar a notícia. A internet é mais um meio para consulta, para pesquisas e como dizem que , internet é terra de ninguém, não se pode acreditar 100% no que esta escrito. A internet nos dá um resumo do que esta acontecendo no momento sem muita profundida, a noticia é rápida e sem profundidade. É só quando há apuração de verdade, por meio da busca do repórter pela verdade que podemos ter certeza da veracidade da notícia. Devemos usar a internet com cautela uma vez , ela não é uma fonte segura.

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  7. Não podemos fazer jornalismo apenas das redações e realizar as pesquisas apenas pelo computador. Repórter bom é repórter na rua.

    Viver os acontecimentos, estar no local da notícia, sentir o calor dos acontecimentos. O repórter deve estar na rua.

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  8. O uso da internet para apuração é válido, apenas para confirmação de dados existentes, já adquiridos com alguma fonte. Não é confiável acessar a internet para procurar dados pessoas da fonte ou dados oficiais. Por isto a formação de um bom jornalista consiste saber trabalhar com produção, edição,por exemplo.
    Mesmo com a era do jornalismo digital, é necessário que para a veracidade da noticia e clareza, o repórter tem que estar na rua, conversando cara cara. Isso adquire confiança ao entrevistado, e de foma "correta" e "legal" o jornalista pratica seu exercicio com clareza.

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  9. Quanto mais meios de acesso à informação, melhor!
    Mas o jornalista nao deve se acomodar com o facil acesso e deve ir a campo, entrar na noticia... Assim, com certeza, a apuracao sera melhor e a noticia chegara mais completa para as pessoas.

    Arthur Henrique Costa

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  10. Acredito que a internet deve ser usada como uma ferramenta para complementar a informação. Jornalistas que copiam dados por exemplo, corre o risco de publicar algo errado e dificilmente vai conseguir fazer algo novo e atrativo. Todo jornalista deve ir a campo, conversar com pessoas, apurar o máximo de detalhes possíveis. Sem conhecer a história de perto é difícil transmiti-la com credibilidade.

    Ass: Camila Borges

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  11. A internet é uma boa fonte para descobrirmos o que está acontecendo, mas presenciar o decorrer do fato é imprescindível para uma boa matéria. Ver com nossos próprios olhos, sentir e ter nossa visão não tem preço. Não sabemos a intenção das pessoas quando lemos algo pela internet. Por isso defendo que os repórteres devem ir pra rua. Sem estar presente no local fica difícil descrever a situação, sem falar que quando estamos no local passamos mais confiança para o leitor.

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  12. Um bom jornalista a meu ver tem que estar com os olhos sob a questão sobre a qual vai escrever, tem que sentir o ambiente e é com sua observação que enriquece oconteúdo a ser divulgado. Em tempos de não obrigatoriedade de diploma e quando a internet permite a qualquer um "ser jornalista" escrever e divulgar informações, o que torna um profissional da comunicação diferenciado é sem sombra de dúvida sua aproximação com o fato, sua vivência fora das redações, o encontro com o que cerca a questão a ser noticiada, o distanciamento do fato nos coloca no risco de ver como uma maioria e não com as especificidades de um olhar apurado. Lugar de jornalista é na rua, experimentando e vivenciando as questões.

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  13. O jornalismo exige que corremos atrás da notícia, em qualquer situação. Existem ferramentas na internet que proporcionam uma busca de informações, precisas, imediatas e muitas vezes confiáveis, porém o trabalho do jornalista não é garantido só pela pesquisa. Deve haver contato com o campo pesquisado. A apuração deve ser na rua, relacionando-se com a sociedade para enxergar e ter posicionamento próprio. Se o jornalista não vai à rua, nunca terá seu ponto de vista da notícia.

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  14. A observação seja talvez um dos pontos mais importantes durante a produção de uma reportagem. É através dela que se percebe o ambiente, o clima e os detalhes do local onde serão as entrevistas. Uma pauta proposta inicialmente pode ser mudada pela própria observação, talvez o que há de mais importante você só perceba ao chegar e observar o espaço. É por isso que a entrevista pessoalmente é muito importante, sem descartar, é claro, a internet e o telefone, que são fundamentais para o desenvolvimento de uma pauta.

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  15. Foi-se o tempo em que o jornalista só ficava nas redações e replicava o que seus superiores lhe passavam. É importante que o repórter realmente relate o que esteja acontecendo no momento em que acontece, e é isso que estamos aprendendo na disciplina. O processo de criação da reportagem deve ser planejado na pauta, mas os imprevistos que acontecem na rua também fazem parte da reportagem.

    Leonora Laporte

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  16. Eh necessário vivenciar os acontecimentos para passar uma informação de qualidade ao receptor. A internet, assim como as outras mídias, funcionam como uma espécie de ferramentas para complementar a construção da informação.

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  17. Para mim a internet é muito útil e se bem utilizada pode ser um aliado enorme do jornalista. O que não pode acontecer é a internet se tornar a única fonte de pesquisa. O jornalista precisa ir para a rua, para os livros e outras pesquisas para desenvolver seu trabalho com maior maestria possível.

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  18. As mídias digitais estão ocupando, cada vez mais, um lugar na vida da população. Hoje em dia muita coisa só pode ser apurada através da internet, resta ao jornalista saber filtrar o certo do errado. Além disso com o uso das redes sociais, a informação chega de forma rápida, fácil e barata ao consumidor, isso faz, também, com que os profissionais sejam mais dinamicos e atentos.

    Ass lorraine

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