Telefonia móvel e outras novas tecnologias estão ao nosso dispor. Como elas são usadas é a principal questão. Para o jovem, essa inovação é absorvida e manipulada com naturalidade. Será que os estabelecimentos de ensino já se deram conta disso - e será que estão sabendo aproveitar tanta modernidade a seu favor?por Gustavo da Silva Barbosa - REP Educação e Terceiro Setor - 18/09/2009O telefone celular sempre foi visto como vilão nas escolas. O aparelho ligado durante as aulas pode atrapalhar o trabalho do educador e ser motivo de distração para os alunos. Para piorar essa fama negativa, a internet está cheia de vídeos gravados em celular com estudantes brigando com professores. Será que é possível transformar o telefone de inimigo em herói? É essa mudança que o projeto Minha Vida Mobile (MVMob) vem realizando desde 2008. Como? Fazendo do celular uma ferramenta cultural e pedagógica.
É simples. Disciplinas como Ciências, História, Matemática e Informática podem virar trabalhos escolares na forma de vídeos, animações, áudios e fotografias. Tudo com o celular. O MVMob promove um concurso cultural em que os autores dos melhores trabalhos feitos com tecnologias móveis concorrem a prêmios como equipamentos para a produção de novos conteúdos. A premiação acontece semestralmente, ao final do primeiro e do segundo semestre de cada ano.
Além disso, a equipe do MVMob realiza, em escolas públicas e particulares, oficinas de técnicas de gravação em vídeo e áudio, fotografia e produção de notícias. De agosto de 2008 a agosto de 2009, o MVMob fez 14 oficinas em dez cidades de Minas Gerais. Nesse período, houve 435 cadastros na webcomunidade do projeto, mais de 200 vídeos, 400 fotografias e 100 peças de áudio publicadas. A capital paulista e cidades do interior de São Paulo também já receberam o grupo. O coordenador Wagner Merije explica que o MVMob é destinado tanto a estudantes quanto a educadores. "Buscamos promover a convergência da cultura com a tecnologia e a educação. O projeto integra o conceito de mobilidade à transmissão de conhecimentos e incentiva a produção de audiovisual no ambiente escolar", diz.
Inovação Levando em conta que a escola é o local onde se descobre e se fomenta o conhecimento, nada mais estimulante que explorar alternativas inovadoras em associação com o processo educativo. Segundo Wagner, a proposta de aliar o celular nesse contexto traz vários benefícios. "Trabalhar com a tecnologia e as novas mídias pode oxigenar o dia-a-dia das escolas, motivar e envolver os alunos, bem como criar condições para que eles invistam nessa área como perspectiva de carreira, já que novas profissões têm surgido no mundo digital", afirma. Dessa forma, é atribuída uma resignificação ao aparelho telefônico móvel e, assim, ele pode passar a ser um aliado dentro dos colégios.
Os alunos têm liberdade para fazer trabalhos sobre os temas de seu interesse. A partir das oficinas do MVMob, eles desenvolvem junto com os professores os assuntos e formas de abordagem que desejam explorar. Um grupo produziu vídeos sobre meio ambiente, outro fez fotos tratando de dependência de drogas, outro pegou o conhecimento adquirido nas aulas de História e fez ilustrações sobre nazismo e ditadura. Há também os que fazem uma apresentação de tomada única, numa linguagem de teatro.
Para a assessora pedagógica Roberta Scatolini, o MVMob permite que a comunidade escolar debata tópicos polêmicos, mas obrigatórios no currículo. Entre eles, por exemplo, a orientação afetivo-sexual e a diversidade étnico-racial. "Em O amor não tem limites, os estudantes fizeram um vídeo sobre uma relação entre duas garotas e abordaram o conflito que isso causa no grupo que elas pertecem. Já em Racismo, os estudantes propõem uma série de perguntas sobre o tema - o que pode servir de material para o espaço educativo". De acordo com Roberta, é bem mais atrativo para os alunos um processo de ensino-aprendizagem em que eles são sujeitos. "Ao usar a tecnologia, eles são autores da cultura e da arte e ainda podem subsidiar o debate organizado pelo professor, que deve sempre fazer o plano de aula e levar mais conteúdo para ser problematizado".
(...)
Colegas, conheçam mais do projeto e dêem sua opinião.