segunda-feira, 17 de junho de 2013

Exercício Roteiro não-linear


GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para novas mídias – do game a TV Interativa. 2ª ed. São Paulo: SENAC, 2003

Prezadas e Prezados:

Façam roteiro não-linear de uma suposta reportagem telejornalística.


Trata-se da aula que tivemos no dia 11/06

No Material Didático no SOL estão os slides da aula.

Sejam criativos, multiplataforma e interativos.

Trabalho Individual. Valor 10 pontos

Entrega impressa: dia 27/06/2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

Eles sabem o que você quer ver


Editora Globo


Algoritmos já conseguem descobrir com antecedência quais filmes e músicas vão te agradar; seu gosto, dizem cientistas, pode ser previsto

Por texto João Mello* - ilustração Eduardo Ely - Revista Galileu - Ed. 261 - Abril 2013 - *viajou a convite do Netflix

Greg Harty liga o computador de seu quarto, em Los Angeles, e divide o monitor em dois: à esquerda, um filme; à direita, uma planilha de Excel. Tiros, tortura e sequestros acompanham o preenchimento da tabela. No item “cena de perseguição”, ele dá nota dois (o máximo é três). “Proposta central” recebe uma marca em “entretenimento com fundo levemente edificante” e “protagonista”, em “moralmente digno, com pequenas ressalvas”. O filme se chama Ato de Coragem e Harty tenta ser o mais objetivo possível. “Não devo dizer se a piada é engraçada. Devo dizer que ela existiu”, explica, afundado em sua cadeira, ao lado de uma estante apinhada de DVDs e livros de cinema. 
Começa aqui uma complexa trama de algoritmos que vai adivinhar o que você quer assistir. 
 
Ex-produtor da série de TV House, Harty é um dos 40 cinéfilos pagos pelo Netflix para ficar em casa assistindo a filmes. Especialistas como ele quebram e classificam os títulos em mais de 100 pedaços, usados depois para calcular as recomendações de obras com mais chances de o usuário gostar. Ter sugestões afiadas explica em boa parte como o Netflix se tornou o maior serviço de distribuição de conteúdo de cinema e TV online. Nos horários de pico, chega a ser responsável por 33% do tráfego de dados via internet nos Estados Unidos (o segundo colocado é um tal de YouTube, com 14,8%). Ao todo, três em cada quatro vídeos assistidos pelo Netflix só foram acessados porque um software jogou na tela do assinante um filme que, muito provavelmente, ele ia gostar. Isso importa tanto para a empresa que, em 2006, ela ofereceu US$ 1 milhão a quem melhorasse em 10% o algoritmo. Mas como prever algo tão pessoal quanto o gosto de cada um?

O sistema envolve muitas variáveis, mas a mais importante delas é saber o que pessoas que viram os mesmos filmes que você foram assistir na sequência (sim, aceite, seu gosto tende a seguir um padrão). Depois vêm as tags (aquelas coletadas por Greg Harty): as características mais recorrentes nos filmes que você tem visto ajudam a prever o que você gostará de assistir. Há um detalhe importante: o que você viu ano passado importa, mas o filme de ontem à noite entra com mais peso na previsão — faz sentido se pararmos pra pensar como um mau humor repentino ou um pé na bunda alteram nossa inclinação pra escolher um tipo de filme ou outro. A quantidade de tempo assistida de cada material também fica registrada. O algoritmo não vai entender que você amou um filme se você desistir de vê-lo após 10 minutos. 


Tudo isso entra num complicado algoritmo de cálculo de probabilidades, de onde saem as sugestões.
Um sistema semelhante é também a parte mais importante do Pandora, espécie de rádio online criada para tocar apenas músicas que você gosta (não disponível no Brasil). Por trás dessa pretensão, está o Music Genome Project, um gigantesco banco de dados que separa as obras por “genes”. Cada canção recebe mais de 450 deles, com nomes como “dançabilidade”, “intensidade emocional do vocal principal”, “nasalidade da voz do cantor” e “ornamentação melódica”. É claro que uma avaliação dessas não é para qualquer um; quem faz o serviço é um time de musicólogos contratados para ouvir e classificar as melodias. Depois do mapeamento, os usuários dão joinhas pra cima ou pra baixo ao ouvir a música e vão calibrando as indicações. “Mais de 20 bilhões de ‘likes’ foram dados. E ninguém, nem nós, nem os usuários, sabe dizer ao certo por que gostaram ou não daquela música”, diz Eric Bieschke, diretor de tecnologia de playlist do Pandora. Com os likes, o sistema vai encontrando os “genes” que você mais gosta e faz sugestões calculadas. Quanto mais você usa, mais ele acerta. 


CIÊNCIA DO GOSTO  
Áreas diversas como sociologia, psicologia, neurociência, economia e até biologia estudam o que faz ser possível reunir esse punhado de dados para prever nossas preferências. As pesquisas mostram que nosso livre-arbítrio é menos responsável pelas nossas escolhas do que imaginamos. Por isso, os cientistas tentam hoje entender como outros fatores influenciam nossas escolhas para que seja possível prever melhor o que escolheremos. Três desses fatores foram listados nos estudos dos biólogos Luigi Cavalli-Sforza e Martin Feldman, da Universidade de Stanford. De acordo com eles, autoridades (professores, padres) e preferências já consolidadas pelas gerações mais antigas têm um grande papel em como moldamos nosso gosto. O economista Alberto Bisin, da Universidade de Nova York, chegou a criar um modelo matemático para prever como a preferência dos pais influencia o gosto dos filhos. “A pressão dos pares induz ao conformismo, te leva a fazer o que todos do grupo estão fazendo”, diz Bisin.

Aí também entra um terceiro fator apontado pelos biólogos: a “influência horizontal”, dos amigos da mesma idade e com os mesmos interesses. Não à toa, a aba “10 mais populares no Netflix” é a segunda mais acessada do serviço, só perdendo para o “top 10 pessoal”: filmes que você não viu, mas que, graças ao sistema de previsão deles, provavelmente vai gostar. A influência dos pares pode ser tão grande que, num estudo publicado em 2010, o Ph.D. em psiquiatria Gregory Berns mostrou que o simples fato de exibir uma lista de “músicas mais baixadas”, antes de pedir a um grupo de adolescentes que avaliem uma série de canções, influenciava o quanto eles diziam gostar ou não delas.

Todd Yellin, o homem por trás do sistema de recomendação do Netflix, diz trabalhar em cima do papel dessa e de outras influências para que um dia o usuário (ou usuários, em breve o serviço deve contar com perfis múltiplos) de sua plataforma veja a recomendação de apenas um filme. Aquele filme. Ele admite que isso é uma utopia: “Somos criaturas complexas, nossos neurônios estão produzindo contradições o tempo todo”. Mas sabemos cada vez mais sobre essas contradições. “Gosto se discute sim — e se explica. Grande parte da música e do cinema comerciais buscam atingir médias de gosto, soluções que voltam a se repetir com pequenas variações”, diz Ronaldo Bispo dos Santos, especialista em experiência estética da Universidade Federal de Alagoas. No entanto, o que serviços como Pandora ou Netflix fazem já não é mais buscar a média do gosto de todos, objetivo das companhias de mídia em massa tradicionais. Eles querem, cada vez mais, uma média calculada para você, levando em consideração suas preferências anteriores e as daqueles que te influenciam.

  
Prezadas e Prezados, que impacto esses fatos podem ter no consumo de produção audiovisual jornalística? E como os jornalistas devem se preparar e construir suas produções?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Projeto de Lei da Mídia Democrática: o que é isto?


Por Bruno Marinoni - Observatório do Direito à Comunicação - 03.05.2013


Uma das coisas a se destacar nas comunicações em todo o mundo é a velocidade das mudanças que sofrem e produzem e a forma como influem na vida de todos. Pode-se dizer, então, que há algo errado quando no Brasil a televisão e o rádio (o setor chamado de “radiodifusão”) são regulamentados por leis que já completaram seus 50 anos e servem para limitar a participação, em vez de ampliar e diversificar o número de vozes.

Há tempos que a população, preocupada com os malefícios que a concentração de veículos de comunicação nas mãos de poucos empresários e políticos pode causar à democracia, luta por uma regulamentação atual e que garanta direitos básicos, previstos na Constituição. Todavia, tem se deparado com a resistência dos setores que lucram com os privilégios desse sistema concentrador, anacrônico e excludente.

Diante disso, a campanha “Para expressar a liberdade” coordenou a formulação de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular que mude esse quadro e que discuta com a sociedade brasileira um tema no qual os meios de comunicação comerciais evitam tocar, justamente porque questiona a sua dominação. Esse instrumento, previsto na Constituição de 1988, exige o apoio de 1% da população eleitoral nacional, por meio de assinaturas, o que abrange cerca de 1,3 milhão de adesões.

O conteúdo do texto do projeto de lei se baseia fundamentalmente na reflexão que uma parcela da sociedade brasileira engajada na luta pela democratização da comunicação vem fazendo ao longo de pelo menos os últimos trinta anos. Esse debate ganhou sua principal sistematização durante a Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, que reuniu uma série de propostas para avançar na regulamentação e nas políticas do setor e que foram quase que completamente negligenciadas pelos governos nacionais, estaduais e locais que se sucederam até agora. A iniciativa da campanha oferece materialidade por meio de um documento que reúne uma série de pontos destacados pela sociedade civil como de fundamental importância e que tem a finalidade prática de servir como lei que regula amplamente um setor.

Pontos fundamentais

Alguns eixos gerais podem ser destacados, por abrangerem questões fundamentais que repercutem em pontos específicos do nosso sistema de comunicação no país. Alguns atores que participam da formulação do texto da campanha “Para expressar a liberdade” chamam a atenção para esses temas que articulam os demais.

Para João Brant, do Intervozes, “o projeto busca enfrentar o problema da concentração e do combate ao monopólio por meio da combinação de múltiplas estratégias como: a proibição da propriedade cruzada, os limites à concentração de verbas publicitárias e a abertura de maior espaço para o sistema público e comunitário”. A proposta teria não se preocuparia com a ampliação do número de proprietários, mas também com a “diversidade de gênero, étnico-racial e interna dos veículos, com abertura de espaço para produção regional e independente”

Outro ponto de destaque para os integrantes da campanha são os mecanismos que garantem transparência nos processos de distribuição de concessões e a ampliação da participação da população na definição das políticas para o setor. Nesse sentido, Renata Mielli, do Centro de Estudos Barão de Itararé destaca a proposta de “mecanismos efetivos de participação social na elaboração e acompanhamento das políticas públicas de comunicação, como a criação do Conselho Nacional de Políticas de Comunicação”.

Para o professor do curso de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcos Dantas, o Projeto de Lei de Iniciativa Popular para uma mídia democrática apresenta dois aspectos fundamentais. “O primeiro é seu caráter inovador que prevê a regulação do setor por camadas, tendo um órgão regulando a infra-estrutura e outro focado no conteúdo. O segundo diz respeito à concretização em um formato legal das bandeiras, reivindicações e princípios históricos do movimento que luta pela democratização da comunicação”, afirma.

O professor Marcos Dantas considera também que a regulação por camadas, inovação que pode ser “até revolucionária” para o Brasil, está em “total coerência com o que se vê na maior parte das democracias liberais, principalmente nos países europeus.

Texto do projeto

O Projeto de Lei de Iniciativa Popular prevê a divisão do sistema nacional de comunicação em privado, estatal e público, conforme previsto na Constituição, reservando 33% para este último, sendo que metade deste número deve ser utilizado de forma comunitária.

Outra proposta que consta no projeto é a da criação de um “Fundo Nacional de Comunicação Pública” para auxiliar no sustento do sistema público, que levanta recursos de forma diferente da iniciativa privada. Desse fundo, ao menos 25% serão utilizados para promover a comunicação comunitária.

Um dos capítulos do projeto de lei é todo dedicado a “concentração, o monopólio ou o oligopólio”. O texto restringe a propriedade, não permitindo que se controle mais de cinco emissoras em território nacional, e impede a chamada “propriedade cruzada”, situação em que um mesmo grupo explora mais de um serviço de comunicação social eletrônica no mesmo mercado ou que possua uma empresa nesse setor e um jornal impresso.

O Projeto de Lei de Iniciativa Popular pode ser acessado por meio de:
http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/arquivos-nocms/plip_versao_final.pdf

Prezadas e Prezados, doem sua reflexão.