Sua rede de grande capilaridade deve tornar-se um braço importante na disseminação dos conteúdos audiovisuais.
É obvio que a internet e as redes sociais vieram para ficar. São
conquistas das sociedades humanas, ávidas por se expressar, por
participar, por se informar, por se educar e por se divertir. Novas
formas de comunicação estão nascendo baseadas no ciberespaço, na
integração de plataformas. Os modelos da radiodifusão analógica no
formato centralizado, de um para todos, vão aos poucos se transformando
com o evento da TV digital interativa, influenciada pela necessidade de
responder a ânsia de interação dos indivíduos e grupos sociais.
Entretanto, cabem aí algumas reflexões:
A
TV, em países desenvolvidos como Japão, Inglaterra, França, Itália, os
escandinavos, Alemanha, Austrália e Estados Unidos tem um espaço
significativo da atenção, seja em alguns casos, majoritariamente por
assinatura, em outros em modelos abertos e gratuitos. A TV e o cinema
são os grandes produtores de conteúdos audiovisuais da indústria
cultural. Portanto, determinam padrões e hábitos de consumo.
A TV
nos países em desenvolvimento é o meio de maior penetração domiciliar e
apresenta-se no formato aberto e gratuito, cenário que coincide com a
baixa oferta de infraestrutura de internet de alta velocidade. A TV
digital interativa não existe em países que possuem redes de banda
larga. Estes já utilizam a interatividade por outros meios. A TV digital
nesses países reúne a oferta de modelos de programação onde imperam os
conceitos de entretenimento e os espetáculos artísticos, as produções
audiovisuais caras e com alto acabamento, as grandes coberturas
jornalísticas. Tudo com alta definição e com toda tecnologia que puder
somar-se a qualidade de imagem e de som de seus programas
A TV
digital proposta pelo Brasil é interativa, quer proporcionar a
bidirecionalidade, ou seja, incluir em seu modelo, o canal de retorno
para introduzir a possibilidade de interação entre produtores e o
público. Estão sendo criados modelos para a publicidade comercial, para
compras e acessos bancários, e, especialmente, na oferta de serviços
públicos como a marcação de consultas no SUS, pagamento e acompanhamento
de impostos, educação à distância em todos níveis e diversos objetivos
de formação e capacitação, em apoio a produção cultural audiovisual,
nacional, regional e local e ao desenvolvimento da cidadania plena.
A
convergência da TV digital com as plataformas IPs vai ser necessária
entre outras necessidades para baratear os custos de transmissão de
conteúdos locais, para propiciar o intra-fluxo de programação, para
utilização como canal de retorno. As TVs por IP vão acontecer
socialmente na medida em que a oferta de banda larga, rápida, barata e
universal for uma realidade nestes países sem desenvolvimento que somam
4,5 bilhões de pessoas. Mas vão tornar-se hegemônicas quanto à exibição
de produções sofisticadas e que respondam a grandes investimentos de
produção? Vão poder, a curto prazo, transmitir simultaneamente os sinais
em alta definição relativos aos grandes eventos que envolvem bilhões de
pessoas como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? A lógica industrial deve
continuar a ordenar a exibição em mídias seletivas, que atendam o
deleite da percepção sensorial humana e garantam a remuneração dos
investimentos, numa cadeia que tem como ponto terminal a mídia massiva. E
neste contexto estão as salas de cinema a TV a Cabo e a TV Digital
Aberta em Alta Definição.
A internet e as redes sociais já são
responsáveis pelo aparecimento de miríades de novos produtores e de
conteúdos que rapidamente vêm se tornando hits globais. Entretanto,
dizer que os trash movies, as produções de garagem, as manifestações
individuais por mais espaço que ocupem da atenção do público em geral,
vão impor à indústria de conteúdos seus modelos, é um pouco temerário. O
que podemos e devemos propor é um ambiente público onde as
manifestações do individuo ou de coletivos sejam livres para florescer.
Seja através dos espaços em redes sociais, blogs, sites, dos celulares e
handsets, mas, igualmente, disputar espaço nas telas maiores, onde os
investimentos são mais robustos. Aí, se soma a cobertura em nossos
países em desenvolvimento da TV aberta.
A TV digital pública
interativa deve respeitar suas características de veículos de
radiodifusão. Ela não é IP. É transmitida pelo ar. E isto não a faz
velha ou ultrapassada. Ao contrário. Sua rede de grande capilaridade
deve tornar-se um braço importante na disseminação dos conteúdos
audiovisuais produzidos por agentes nacionais e, de preferência, com
temáticas ligadas a nossa identidade cultural. E, portanto, soma-se ao
esforço do avanço do PNBL na construção de uma economia da cultura e de
uma industrial de conteúdos pujante e com grande aceitação popular.
Entretanto, a rede de banda larga, com seus backbones, backhalls e as
tecnologias que permitem o acesso final tem características de tráfego
de dados e conteúdos audiovisuais diferentes das redes de radiodifusão.
Estas não podem prescindir do projeto de retransmissão de sinais
nacionais simultâneos por entes afiliados que, por sua vez, devem ser
alimentadas regionalmente ou localmente. Assim, podemos afirmar que o
mesmo objetivo de propiciar a participação a todos que os querem se
comunicar livremente está contemplado, mesmo que através de modelos
diversos de transmissão e recepção que evidentemente não se excluem
entre si, mas se somam, por sua complementaridade.
Finalmente,
todos sabem, o Estado induz as políticas. Estas devem corresponder aos
anseios da sociedade. Banda Larga é um desejo legítimo. Vamos, portanto,
apoiar as iniciativas nesse sentido. Mas não nos esqueçamos que o único
meio de acesso que permite o acesso à informação sem custos diretos
para as audiências ainda é a TV aberta e gratuita. Nenhum mais. Vale a
pena investir dinheiro público neste projeto? Temos certeza que sim.
Prezadas
e Prezados, gostaria de ler a opinião de vocês. É um artigo de 2010.
Continua atual? E o que isso impacta no trabalho profissional do
audiovisual?